segunda-feira, abril 30, 2007

O Tempo

Trémulas
as tuas mãos
suspendem o Tempo

domingo, abril 29, 2007

Livro

Nada reverte do acaso
numa árvore: o número de folhas
ou os desenhos do tronco
estavam inscritos no Livro.

A raiz do poema, 2





Imagens: afonso pinto, 6 anos; maria constança videira, 8 anos; inês trigueiros, 10 anos; maria pinto, 9 anos; mariana videira, 6 anos.

A raiz do poema, 1





Imagens: afonso pinto, 6 anos; maria constança videira, 8 anos; inês trigueiros, 10 anos; maria pinto, 9 anos; mariana videira, 6 anos.

quinta-feira, abril 26, 2007

Lume

Uma única palavra: lume: vagaroso
lume de novembro poisado na pele.

quarta-feira, abril 25, 2007

Isto é como quem diz

Pois assim exactamente nada a opor
unidos o falcão e a pomba numa paz corporativa
e a sombra o grande silêncio o imenso
lodo forrado com papel de lustro
que mais queres o empregozinho na repartição o
papel de vinte e cinco linhas
o chefe de família
isto já vinha de longe e não haveria razões de mudança
oh que tão antiga genealogia
como sugeria o avisado d. francisco manuel
e isto é só um exemplo que elas ficam sempre muito
à mão para fazer os retratos das épocas
«que seria bom ocupar a mulher no governo doméstico» e necessário
«não só para que ela viva ocupada senão
para que o marido tenha menos
esse trabalho»
ou não se dedicando à linha e ao fogão
então que lavrasse em santidade as páginas do seu nome
e se publicitassem os seus feitos na colecção educativa
da direcção geral do ensino primário
como por ensinamento santa iria casta discípula de frei remígio
como por ensinamento santa maria que da última vez
que desceu à terra o fez em
nosso solo pátrio altar do mundo
como por ensinamento santa comba dão
que a nenhuma de tão inumeráveis santas desta terra
como é sabido se ficou atrás em milagres
e nos deu a gesta que deu
pois assim exactamente nada a opor
a sombra repetindo a sombra repetindo a sombra
a sombra repetindo a sombra sem nenhum sobressalto
o grande silêncio o imenso
lodo forrado com purpurina
e papel de lustro

terça-feira, abril 24, 2007

[Um poema antigo]

Os meus amigos que nasceram depois
do vinte e cinco de abril chegam a
pensar que a tortura do sono é não ter pedalada
para ficar na discoteca até às
cinco da manhã por falta
de pastilhas
e que uma falha na corrente
eléctrica a meio da noite é o que
melhor pode definir o
conceito de Sombra.

sábado, abril 21, 2007

[PUB]

Poesia: «Las Moradas Inútiles». Tradução de Manuel Moya. Edição bilingue (português/castelhano). Pode ser adquirido aqui.



quinta-feira, abril 19, 2007

A poderosa Arte da Evocação, 2

jcb



Os grandes desígnios

Aqueles que têm como desígnio a salvação do mundo
às vezes tropeçam nas guias
dos passeios

quarta-feira, abril 18, 2007

2: A poderosa arte da Evocação

jcb



1: Árvore

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segunda-feira, abril 16, 2007

Cicatriz

As marcas do amor não
ficam
na pele.

As escolhas

Não quero
nada. Só quero
tudo.

Gerações

Em todas as gerações se diz
«na minha geração».
Só na nossa
não.

[Outra versão]


J. C. Barros. Acrílico sobre tela (in progress).

domingo, abril 15, 2007

Poema, 2

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Poema, 1

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quarta-feira, abril 11, 2007

As grandes decisões

a mulher que andava à lenha
e encontrou o braço em madeira polícroma
do senhor de matosinhos
hesitou ainda entre salvá-lo
da lareira onde se recusava a arder
e acreditar no milagre

é sempre tão difícil decidir
entre salvar a alma
ou ter numa noite fria de inverno
a lareira acesa

segunda-feira, abril 09, 2007

Abril

as paredes de cal
a água dos tanques
a sombra rumorosa [não é uma imagem]
das alfarrobeiras
jovens

Uma bandeira para o Edifício da Representação de Negócios, 4

jcb



sábado, abril 07, 2007

O que/ nas cidades mais lhes pertence

às vezes é preciso aprender o que já sabíamos
primeiro esquecer cada uma das imagens
cada uma das frases definitivas
e depois olhar de novo pela primeira vez
cada palácio cada desvão
cada uma das casas erguidas por
entre a luz e os escombros
as crianças que
tomaram conta dos largos e dos cruzamentos
a sombra que sobe os degraus e
poisa nas varandas
os buracos das estradas
as torres altivas das catedrais
as paredes escalavradas
a música a tristeza a
felicidade imensa de um rosto que
se abre junto ao mar
os planos dos arquitectos que
não desenham para os seus próprios nomes
e deixam às pessoas o que
nas cidades mais lhes pertence:
os passeios as ruas as praças e os jardins

Uma bandeira para o Edifício da Representação de Negócios, 3

jcb





Uma bandeira para o Edifício da Representação de Negócios, 2

jcb


Uma bandeira para o Edifício da Representação de Negócios, 1

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O pior

O pior nem é propriamente
a consciência de que a injustiça
espalha os seus vidros no chão
onde caminhamos descalços.
O pior é um dia imaginarmos
que nenhum vento ou a erosão
os haverá de reduzir no asfalto
a/ minúsculas partículas de pó.

Chegavas a acreditar

Chegavas a acreditar
que os nomes das coisas
nasceram antes
de cada uma das coisas
e que a literatura precede
as páginas em branco
como o avanço do mar
precede
a tempestade.