quarta-feira, março 19, 2008

12.

Manuel Pequeno (conta Maria Teresa) desce a rua do Toural. Pedro, o Louco, segue-o à distância e senta-se depois no muro dos correios. Fernanda, dona Fernanda, vem à janela da Pensão Americana, afasta os cortinados com suas cornucópias vermelhas e azuis e desaparece de novo. O doutor Magalhães acaba de subir à varanda da casa do largo. Uma nuvem de gases e poeira anuncia a chegada da camioneta da carreira. Lalice fuma um cigarro à porta do armazém de mobílias. Manuel Pequeno entra e sai da taberna, acaba por sentar-se no murete adossado à empena escalavrada, o seu ângulo de visão condicionado ao movimento em arcos de círculo do pescoço e ao trabalho quase mecânico das suas veias muito salientes. O seu corpo estremece quando o olhar, e portanto a cabeça em bloco, sobe à varanda da casa do largo no momento preciso em que o doutor Magalhães puxa uma cadeirinha de lona branca e azul para junto do gradeamento de ferro forjado e arregaça as mangas da camisa em dobras simétricas.