sábado, abril 19, 2008

12.

Fomos jantar a casa de Américo Fontes. A casa ficava na parte superior de uma vinha virada ao nascente descendo em suaves declives para as margens da ribeira do Fontão. Chegámos ao pátio e fiquei a olhar, ausente, as linhas dos arames iluminados pelo sol do fim de tarde. Um bosque de carvalhos, do outro lado da encosta, deixava as copas vigorosas das suas árvores a reflectir o dia caminhando para o demorado crepúsculo de Julho. Um rumor contínuo: o das águas da ribeira a correr vagarosamente nas pedras das poldras. E a luz, ainda: da urze, do rosmaninho, do tojo, do arando. O mundo está sempre a nascer: rendia-me às suas declivosas encostas, ao curso das suas águas, aos arbustos que desciam das cumeadas ganhando cor, do vermelho ao azul, nas suas flores minúsculas.