domingo, agosto 31, 2008

5.

Desceu do Alto da Ribeira, passou o largo do Toural, subiu a rua Direita, bateu à porta de casa do velho amigo Serapião Afonso. A mãe de Serapião olhou João Pequeno sem disfarçar a mágoa e a censura. Que o filho tinha saído da cadeia no dia vinte e nove de Julho de mil novecentos e vinte e três; que chegou a casa só para juntar a roupa numa mala e sair de novo, sem quase despedir-se, e entrar na camioneta da carreira das três e um quarto e deixar a Vila sem uma lágrima; que nos últimos tempos têm recebido notícias do filho em cartas enviadas de Moçambique com selos de girafas nos sobrescritos; e que tudo estaria certo com a ordem das coisas se não fosse meterem-se (eles) onde não eram chamados e quererem mudar o que está certo por ser assim que o mundo desde sempre naturalmente roda; e que tivesse um bom dia e que agradecia que nunca mais lhe batesse à porta de casa.