sábado, outubro 04, 2008

21.

E, portanto, rumaram enfim à casa a Jusante da Ponte de Arame. Luísa temia que João Pequeno não estivesse preparado para o confronto com a ruína e a desolação; que a memória lhe devolvesse um lugar que não existiu nunca ou que não poderia já existir depois de tantos anos de silêncio e ausência. Ainda o tentou demover. Mas havia uma alegria infantil no seu rosto, nos seus gestos, nas suas palavras; um entusiasmo inamovível. E falava já da reconstrução da casa e dos muros. E via-se a acordar cedo, a descer ao rio, a pescar nas presas, ao saltão, nos dias quentes, ou a fazer vagarosos lançamentos à pluma até as trutas saltarem fora da água como se saíssem da treva e riscassem, no fundo do vale encaixado, a placidez das manhãs resguardadas pela quietação da montanha. Era um sábado. E ouvia-se o ruído do motor do carro de praça, lá fora, no largo do Toural, quando desciam a escaleira da Pensão que levava à sala da entrada.