sábado, novembro 29, 2008

3.

Calcorreámos a envolvência como se preparássemos uma minuciosa cartografia em que a emoção e o território se confundissem. Subimos e descemos os caminhos de pé posto onde cresceram, por mor da ausência repetida, a urze e o tojo; caminhámos nas margens do rio a ouvir o rumor antigo das águas correntes e a pisar as ervas e os fentos que se alargavam nas plataformas sombrias de pequeno declive; atravessámos, a medo, vagarosamente, a ponte suspensa na garganta cortada na pedra, a direito, ligando assim as duas encostas por tirantes metálicos e pranchas de castanho partidas ou apodrecidas; guardámos folhas de bétulas em cadernos de apontamentos; lamentámos as manchas contínuas de pinheiro bravo; e regressámos atravessando o rio mais uma vez, nas poldras, um pé e depois o outro sobre as pedras erguidas no gralheiro como esculturas mágicas a devolver-nos a memória do tempo.