sexta-feira, novembro 21, 2008

8.
.
Um automóvel corre disparado nas avenidas da cidade
uma avenida e outra avenida correm disparadas contra os automóveis da cidade
o néon reflecte nos charcos de água de novembro um estranho movimento oscilatório
depois das chuvas é preciso repor os sobretudos e as gabardines nas lojas
depois das chuvas e do vento os dirigentes bancários trazem nas disquetes embrulhadas em laços de seda e nos nós de windsor as máquinas automáticas das crises contra os vendavais
passando ausente dos palcos e dos coretos e da flor única e última do agave uma criança pára por instantes a caminho da escola a olhar o vórtice repercussivo dos escritórios do comércio e das repartições de finanças
os semáforos variam entre o verde e o vermelho nos bares e nas praças interditas à demasia ou ao recreio 
há um tumulto [e quase passam as aves] que parece queimar por dentro a alucinação das montras iluminadas
adormeces
adormeces devagar entre a torrente e a conciliação e o trânsito
e o domínio sempre presente da passagem do tempo 
às vezes é tarde
não é tarde nem é cedo são
quatro da manhã
e um automóvel corre disparado nas avenidas da cidade.