quinta-feira, dezembro 25, 2008

3.

Desaprender. Procurar um nome para cada uma das coisas. Esquecer as evidências. Procurar desde o princípio. Desde os alicerces da casa. Procurar desde a raiz e construir as frases de novo. O que liga e separa a ternura e o desejo? Não sabia. Mas Manuela ficava no seu colo, aninhada no seu corpo, como se o desejo começasse num gesto de trazer de longe a memória da chuva, da lareira acesa, do pó levantado nos caminhos de Verão: antes do sexo, antes do lume erguido nos ombros, nas mãos, na pele inteira dum corpo desprotegido no meio da tempestade. Aline tocava a pele adormecida, abandonada às suas mãos vagarosas. Como se a não despertasse o desejo, o amor: mas a memória de um lugar onde o desejo, então, haveria de erguer-se por dentro da noite.