quinta-feira, dezembro 25, 2008

5.

Esta história (este capítulo duma história que não é possível contar) começou pelas contingências da blogosfera: meter um ou outro texto disperso, em prosa, por entre poemas e desenhos. Os textos, no entanto, foram convocando a necessidade da narrativa. Foi pena não ter-se optado por contar a história verdadeira que um dia o narrador se propõe contar. A de uma Aline que não estudou à noite; que não arranjou um emprego de secretariado; que nunca se entendeu com os talheres dos restaurantes e que sempre se sentiu ridícula nos saltos altos dos casamentos e nos vestidos de alças; que nunca se interrogou sobre as diferenças entre o tédio e a melancolia; que sempre se sentiu usada no amor; que, cedo, confundiu o desejo com a ternura e a ternura com o momento em que um homem é capaz de dizer o seu nome a tremer de frio. Esta Aline verdadeira não sentiria nunca o sobressalto do desejo até o desejo reverter da ternura e da protecção do amor. E, no fundo, quase nada as separa. A história de uma é a história de outra. Ambas saíram de casa e ambas sentiram a impossibilidade do regresso. Ambas se perderam em si mesmas. Ambas procuram ainda, sempre, a seu modo, o amor.