quarta-feira, dezembro 29, 2010

[consoada]

Somos tão poucos quando estamos todos.
Somos tão poucos que nem sabemos
se a esta mesa em que estamos todos
não faltam todos os que já perdemos.

Somos tão poucos que nem contamos
olhando o lume da lareira acesa
quantos é que estamos, quantos faltamos
quando estamos todos sentados à mesa.

Somos tão poucos que já nem importa
se somos muitos, se somos poucos:
quando o silêncio nos bater à porta
já estamos todos e somos tão poucos.

quinta-feira, dezembro 23, 2010

[nenhum desses nomes]

jcb



Boas Festas e um bom ano de 2011. Com um forte abraço. JCB

quarta-feira, dezembro 22, 2010

[quase só o silêncio]

jcb

terça-feira, dezembro 21, 2010

[o esquecimento, 2]

jcb


[o esquecimento, 1]

Disse: esqueceis depressa.
E, como nos enigmas, deixou
um punhal
e uma lâmpada.

segunda-feira, dezembro 20, 2010

[paisagens]

jcb




[Esferográfica, marcadores e lápis de cor]

sábado, dezembro 18, 2010

[nunca ninguém]

jcb





«nunca ninguém». Acrílico sobre madeira de guarda-vestidos, 120x65 cm. 2010.

quarta-feira, dezembro 15, 2010

segunda-feira, dezembro 13, 2010

[perdas]

jcb




[caneta e giz das ementas de lousa dos restaurantes sobre toalha de papel]

sexta-feira, dezembro 10, 2010

[vime]

jcb

[a neve nas Alturas]


Sabemos que uma coisa não existe
senão no modo como a olhamos. A água benta
é apenas um bom exemplo:
o Homem é o único animal que a distingue

da água da torneira. Assim
a neve nas suas múltiplas representações:
a neve prosaica
que significa desconforto

e se mistura com a lama e desliza, entre espessa
e deslaçada, nas ruas e nos pátios;
a neve muito branca elevada à categoria simbólica

da purificação; a neve e o seu carácter
lúdico, jogo e divertimento,
riso e corrida nas descidas das veredas lisas.

A neve caiu mais uma vez (e deu-lhe forte)
sobre as aldeias e as vilas, das cumeadas
às encostas da urze, das colinas aos vales da aluvião,

dos largos aos terraços, dos telhados das casas
aos adros das igrejas. E novamente
o múltiplo olhar do mundo

a desenhou em cartas de rumo inúmeras, derivações,
diferenças: da exaltação à palavra avisada
do velho das Alturas do Barroso
que não se teve que não dissesse à algarvia jovem

que saltava na neve e deslizava como se estivesse por dentro
da nuvem dos sonhos dos livros: «pois se gosta
tanto dela
leve-a toda que não nos faz falta nenhuma.»




publicado originalmente aqui: http://chaves.blogs.sapo.pt/

fotografia tirada daqui: http://www.cm-boticas.pt/