terça-feira, maio 17, 2011

[e depois o inverno]

Varas de lódão
pranchas nas cancelas das
hortas esculpidas a navalha
uma cruz desenhada com tinta vermelha
do lado de dentro
do portão das lojas
dos animais

e depois o inverno
o vento a dobrar os troncos dos
álamos brancos
a chuva no cimento dos pátios
o território imenso de um verão
que escreveu a direito nos fios
emaranhados
dos novelos
de ráfia

Era o tempo da infância
corríamos em direcção a
lado nenhum com lanternas acesas
a luz de mercúrio desenhada
no espelho de água
das represas

Habitaremos sempre esse
território devastado pelo granizo e
o lume incombustível

é aí que
ainda hoje nos dói quando
estamos doentes
ou acordamos num largo a meio da noite
e o mundo todo é só o
que vem desenhado
nos mapas
antigos
das províncias