segunda-feira, outubro 01, 2012

[Como se fosse eu mesmo]

Não posso ver estes programas parvos
estes programas das noites de fim de semana que
puxam à lágrima mais fácil
à emoção por educar
ao sentimentalismo mais primário

sobretudo quando os jovens estão a ser completamente iludidos
quando se lhes dá a ideia de que a fama os espera ao virar da esquina
de que os aplausos os acompanharão até serem velhos
e que ainda assim depois de velhos
haverão de ser premiados nas galas
que reconhecem as carreiras

sobretudo quando são emigrantes
sobretudo quando não estudaram
sobretudo quando pensam que estudaram
sobretudo quando são jovens das periferias urbanas
cresceram a ver os pais à bofetada e aos gritos
têm a avó num lar da misericórdia
ninguém a visita
um encargo de que nos temos que livrar

Não posso ver estes programas parvos
sem que as lágrimas me corram na cara duas a duas
sem que o coração me fique apertado dentro do peito
como se fosse eu mesmo
que estivesse à prova
quando lhes dão o palco do horário nobre
para os enganarem do modo mais vil
para os humilharem
para fazerem deles gato-sapato
como se as audiências justificassem
tudo