quarta-feira, abril 23, 2014

[Da série «O Fado do desgraçadinho e da desgraçadinha»]

Não me deixes acordada
qualquer dia nem me deito
já chegou a madrugada
e eu hora a hora acordada
até ser de madrugada
com esta ferida no peito

Não me digas que é já tarde
que o tempo nos amolece
não digas que me resguarde
da paixão só porque é tarde
não digas que já não arde
não digas que tudo esquece

Não insistas no argumento
de que o que passou passou
e que é só dar tempo ao tempo
que o amor é como o vento
não é mais do que um momento
que tudo o vento levou

Eu cheguei a achar que o mundo
era mais do que perfeito
o céu alto o mar profundo
ninguém ficar em segundo
e não sentir lá no fundo
esta dor dentro do peito

Mas esta ferida não passa
transformou-se em cicatriz
não diminui não deslaça
e por mais coisas que eu faça
ai esta ferida não passa
transformou-se em cicatriz

Não me deixes acordada
bate à porta sou sincera
esquece que estou magoada
que me senti ultrajada
bate à porta sobe a escada
estive sempre à tua espera